Neste 1º de Setembro, artigo lembra o início da II Guerra Mundial e o papel fundamental da URSS
Por Lauro Allan Almeida Duvoisin
A invasão da Polônia pelas tropas do III Reich alemão em 1º de setembro de 1939 marcou o início da II Guerra Mundial (1939-1945). Na verdade, este foi o segundo tempo de um período de conflitos iniciados em 1914 com a I Guerra Mundial (1914-1919) que se encerraria apenas em 1945. A natureza geopolítica da guerra se explica por um conjunto de contradições, principalmente pela violenta disputa entre potências imperialistas antigas e novas pela conquista da hegemonia global.
Até o final do século 19, a Grã-Bretanha – um pequeno conjunto de ilhas da Europa – chegou a dominar um vasto império, onde “o sol nunca se põe”, através de sua enorme esquadra militar e mercantil, de seu poderoso parque industrial e de um delicado equilíbrio de poder mantido no continente europeu. No entanto, no final do século, em decorrência da própria expansão global do modo de produção capitalista, novos centros de acumulação emergiram, impulsionando potências estatais concorrentes, principalmente Alemanha, Japão e Estados Unidos. Essas novas potências, em sua plena revolução industrial, chegaram atrasadas à divisão colonial do mundo e tiveram dificuldades de conquistar territórios que pudessem absorver os enormes capitais acumulados internamente e fornecer os recursos estratégicos – como terras, petróleo e minérios – para seu desenvolvimento industrial.
Os Estados Unidos solucionaram esse problema travando guerras contra seus vizinhos. Ainda no século 19, empreenderam sua “marcha para o oeste” anexando terras indígenas, tomando territórios do México, comprando o Alasca do decadente Império Russo e anexando as ilhas do Pacífico. O Japão teve que competir com o Império Russo e com a China pelo domínio da Península da Coréia e Manchúria, e já na II Guerra Mundial, entraria em rota de colisão com os Estados Unidos no Pacífico, cujo desfecho foi o famoso ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbour, em 1941, e a invasão das Filipinas. Já a Alemanha era a potência emergente em maior desvantagem. Encravado no centro do continente europeu, o Império Alemão unificado tardiamente teve que enfrentar poderosos Estados concorrentes, como Grã-Bretanha e França, e sua expansão afetaria inevitavelmente o frágil equilíbrio geopolítico da região. Foi justamente esta a raiz das duas grandes guerras mundiais do século 20.
Em 1919, a Europa saiu da I Guerra Mundial convulsionada por processos revolucionários, no qual a revolução russa foi a única experiência triunfante. No pós-guerra, o contexto de crise social, tensões políticas, decadência dos valores liberais e humanistas, e crise econômica – especialmente a partir de 1929 -, criou um terreno fértil para a emergência do nazifascismo em diversos países. Na Alemanha dos anos 1930, a pregação revanchista, militarista e anticomunista de Hitler ganhou audiência principalmente porque o país havia saído da guerra destruído e humilhado pelas potências vizinhas. Mas a ascensão e consolidação de Hitler no poder só foi possível devido à conivência dos regimes liberais-democráticos burgueses, que pretendiam instrumentalizar o expansionismo alemão contra o primeiro Estado proletário da história, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Parcelas importantes das classes dirigentes da Grã-Bretanha, França e Estados Unidos não apenas simpatizavam com Hitler como acreditavam que ele prestaria um valioso serviço à civilização cristã ocidental, direcionando a fúria nazista contra o oriente. Com a conivência dessas potências, Hitler anexou a Áustria e os Sudetos em 1938. Por isso, não foi sem surpresa que em 1939 as potências capitalistas receberam a notícia de que a União Soviética havia assinado um acordo de não agressão com a Alemanha nazista, o famoso Tratado de Ribbentrop-Molotov. Para Stálin, o objetivo do acordo era criar fissuras entre as potências imperialistas, que estavam prestes a unirem-se perigosamente contra as repúblicas soviética, e ganhar tempo para organizar o esforço de guerra.
Em 1939, Hitler invadiu a Polônia e a França, que sucumbiram rapidamente e quase sem resistência ao domínio alemão. Apesar disso, os Estados Unidos ainda resistiam a entrar na guerra. Em 1940, Charles Chaplin lançou o filme O Grande Ditador como uma forma de denunciar o perigo nazista e pressionar o governo norte-americano a lutar contra a Alemanha. E isso só veio a ocorrer em 1941, quando todas as possibilidades de negociação haviam se esgotado.
Devido a essas contradições, a aliança entre os regimes ocidentais e a União Soviética para lutar contra as potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) tardou, só se efetivando em 1941. Mesmo assim, as forças ocidentais continuaram instrumentalizando o nazismo alemão contra o oriente. Foi a população soviética quem mais sofreu as atrocidades do exército alemão, cujo ímpeto racista não se direcionava apenas contra judeus, ciganos, negros e homossexuais, mas também contra os povos eslavos, considerados uma raça inferior. Enquanto a França entregou-se facilmente ao domínio nazista, a resistência soviética em Stalingrado durou cerca de seis meses. Já em Leningrado, o cerco alemão durou dois anos e meio e mesmo assim a cidade nunca se rendeu. Em ambos os casos, a resistência custou milhões de vidas.
Ou seja, diferentemente do que contam centenas de filmes de Hollywood sobre a guerra, o fator decisivo para vencer o nazismo foi o heroico sacrifício soviético. Enquanto no front ocidental somente em 1944 Estados Unidos, Inglaterra e Canadá uniram forças para retomar o território francês, no front oriental a URSS teve que arcar sozinha com os custos da guerra. Apesar disso, o Exército Vermelho não só impôs a derrota decisiva em Stalingrado em 1942, que deteve a ofensiva alemã, mas também sustentou a contraofensiva até o “Dia D”, em 6 de junho de 1944. E ainda foram as tropas soviéticas que entraram sozinhas e triunfantes em Berlim em 1945, bem antes da chegada das forças ocidentais.
Em contrapartida, de todos os envolvidos no conflito, aquele que teve vantagem geoestratégica decisiva foi os Estados Unidos. Afastados do centro dos conflitos bélicos, eles puderam se preservar da catástrofe material, social e psicológica da guerra e ainda tornaram as potências aliadas europeias dependentes das suas exportações de alimentos, matérias- primas, armamentos e recursos financeiros. No fim da guerra, os Estados Unidos ainda cometeram o maior ato terrorista da história, lançando duas bombas atômicas em cidades povoadas do Japão, com o objetivo de expor ao mundo seu inédito poder nuclear e anexar o país oriental à sua zona de influência direta.
Encerrada a II Guerra Mundial em 1945, a Europa e o Japão estavam destruídos, a União Soviética estava fragilizada, e os Estados Unidos emergiram como a grande potência imperialista capaz de sustentar uma nova ordem global, encerrando a longa crise de hegemonia aberta em 1914.
Publicado originalmente em https://mst.org.br/2021/09/01/ii-guerra-mundial-o-imperialismo-e-a-heroica-resistencia-sovietica/