A luta pelos direitos LGBTQI+ e a superação do (neo)liberalismo

Gabriele Zini de Oliveira

Arte de Lucas Gertz Monteiro

De acordo com o relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), o Brasil ocupa o primeiro lugar no continente Americano em quantidade de homicídios de pessoas LGBTQI+, além de ser líder em assassinato de pessoas trans no mundo.

Para além desse cenário, conforme indicado na pesquisa realizada pelo coletivo #VoteLGBT[1], em parceria com a UFMG e Unicamp, as dificuldades enfrentadas no período recente atingiram de forma mais contundente os brasileiros LGBTQI+, sendo os três principais impactos a piora na saúde mental, o afastamento da rede de apoio e a falta de fonte de renda. Outro importante dado é que 98,7% dos entrevistados manifestaram insatisfação com o governo de Bolsonaro.

Em decorrência da precarização das vivências dos sujeitos LGBTQI+, é incontroversa a importância da representatividade em todos os espaços, bem como da visibilidade das reivindicações do grupo, como mecanismo de transformação de padrões cis-heteronormativos. Entretanto, considerando a captura de pautas identitárias pelo discurso (neo)liberal –ressignificando uma luta que deve ser coletiva como individual –, é imprescindível um olhar crítico frente a “falsas” representações.

Isso porque, infelizmente, a pauta LGBTQI+ se tornou uma estratégia de marketing (fenômeno denominado como “Pink Money”), o que resulta paradoxos como a veiculação de uma propaganda a favor do reconhecimento de todas as uniões e identidades das Casas Bahia, protagonizada por Lukas Penteado e Gil do Vigor, enquanto o principal acionista da empresa, Michel Klein, mantém nos bastidores apoio declarado ao Presidente Jair Bolsonaro.

Nesse contexto, a empresa lucra pela visibilidade alcançada com a propaganda, enquanto apoia um projeto político manifestamente excludente a direitos reivindicados pela população LGBTQI+. Portanto, considerando que no capitalismo o lucro também advém pela exploração de minorias sociais, a construção de uma sociedade justa e igualitária só será possível pela luta coletiva, isto é, que as respostas combativas a esse contexto não sejam individualizadas, justamente pela necessidade de transformação estrutural.

Em decorrência das vicissitudes ainda latentes, que nesse mês de junho seja possível internalizar a potencialidade da luta coletiva, a fim de que haja a transformação na vivência de toda a comunidade LGBTQI+, inexistindo restrições pela classe, gênero e raça. Como já advertiu Nancy Fraser, a justiça social, sobretudo a luta pelos direitos LGBTQI+, perpassa inexoravelmente pela superação do (neo)liberalismo.


[1] Disponível em: https://static1.squarespace.com/static/5b310b91af2096e89a5bc1f5/t/60d9e9e8461e6d7038a083d1/1624893954338/%5Bvote%2Blgbt%2B%2B%2Bbox1824%5D%2Bdiagno%CC%81stico%2BLGBT%2B2021+b.pdf

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